quinta-feira, 7 de junho de 2012

Solenidade de Corpus Christi

A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo entrou na liturgia da Igreja em 1247, em meio a polêmicas e dúvidas sobre a presença real de Jesus na Eucaristia. Desde o início, a solenidade é marcada por grandes concentrações populares e procissões majestosas pelas ruas.
O Concílio Ecumênico Vaticano II deu-lhe novo significado, ligando-a estreitamente à Páscoa do Senhor, o mistério eucarístico por excelência. A Eucaristia como memória da Páscoa é a ceia da nova e eterna aliança, centro da vida e da missão de Jesus entre nós. A festa de Corpus Christi recorda que o mistério pascal está todo presente na Celebração Eucarística.
Celebrar a Eucaristia é renovar a aliança no sangue do Cordeiro, que se entregou por nós radicalmente como servo. Participando da Celebração Eucarística, somos convidados a fazer de nossa vida um serviço e dom gratuito, para o louvor de Deus e a libertação da humanidade. Uma oferenda perfeita com Cristo, pela ação amorosa e sempre fecunda do Espírito Santo. E, assim tornar autêntica a afirmação de nossa fé: “Ele está no meio de nós!”.
Na celebração da Eucaristia, nos comprometemos com a solidariedade para com as pessoas, a partilha do pão com os pobres e a comunhão com todos os que fazem o bem, fazendo, assim, memória do que Jesus realizou em toda sua vida: entregou-se na Cruz. E, na Cruz, o Pai o exaltou, ressuscitando-o.
O Pai vê, nessa entrega de seu Filho, uma grande força, que, aos poucos, vai nos unindo e reunindo em comunidades fraternas. Uma força que nos ajuda a vencer todas as divisões, explorações e desigualdades, e a sermos pessoas pascais e eucarísticas capazes de dar a vida e de criar comunhão. Enfim, a sermos testemunhas do Ressuscitado no dia a dia.
Ao derramar seu sangue na cruz, Jesus completa a aliança selada no Sinai com o sangue de animais. Proclama, assim, o cumprimento da nova aliança, predita pelos profetas, e apregoa o valor salvífico do seu sacrifício pela multidão, a humanidade toda. A expressão “sangue da aliança” é a mesma do Êxodo 24,8. Jesus diz que vai provar de novo o fruto da videira, no Reino de Deus, festa messiânica predita por Isaías, 25,6.
Não podemos separar a Eucaristia da Páscoa judaica. Ela constitui, teológica e historicamente, o seu contexto. A ceia pascal de Jesus é a celebração antecipada da entrega total de sua vida na cruz. A entrega do corpo e o derramamento de seu sangue selam a nova aliança. Com ela o Senhor nos dá uma nova vida e nos convida a sermos fieis à sua proposta de amor e de entrega ao Reino de Deus.
A carta aos Hebreus lembra que Jesus Cristo foi livre ao entregar seu sangue para nos purificar e libertar. E, nesta entrega, realiza a nova aliança, o novo sacerdócio e novo sacrifício. Jesus é, ao mesmo tempo, sacerdote – o que oferece – e vítima – o que é oferecido.
Em sua morte e ressurreição está o único sacrifício da nova aliança. O sangue dos animais apagava os pecados e purificava o povo. O sangue de Cristo, vítima sem mancha, traz a plenitude: “Ele purifica das obras da morte a nossa consciência, para que possamos servir ao Deus vivo”.
A Eucaristia é a aliança eterna e definitiva de Deus conosco, selada pelo sacrifício único de Jesus Cristo. Seu gesto de amor e entrega é para sempre e permanece atual, pela liturgia, em todo tempo e no decorrer da história da salvação da humanidade.
No pão e no vinho da última refeição de Jesus, faz-se presente antecipadamente o dom da sua vida entregue até a morte sangrenta na cruz. “A entrega de Jesus, sua morte-ressurreição, que aconteceram uma única vez (Hb 10,10-18), tornam-se presentes para nós pela ação litúrgica, ou seja, toda vez que fazemos memória destes fatos e de nossa salvação, anunciamos a morte do Senhor, até que Ele venha (1Cor 11,16). Não se trata de uma repetição, mas de uma atualização”. O sacrifício é um só.
Somos redimidos por um amor sacrificado, um amor que doou corpo e sangue, isto é, doou a vida. Não é o sangue por si mesmo que salva. O que salva são o amor e a fidelidade que levaram Jesus a enfrentar morte cruel e sangrenta. Depois da sua morte, não há outro sacrifício de sangue, o amor de quem o derramou, e este é valido para sempre.
Unindo-nos ao amor de Jesus, entregamos, no momento da Celebração Eucarística, o nosso corpo e sangue, toda nossa vida a serviço dos irmãos. Assim, nos tornamos “uma oferenda perfeita” com Cristo e em Cristo.
Se, na verdade, desejamos participar da mesa eucarística, agora e no banquete celeste, somos convidados a participar de seu serviço gratuito e assumir em nossa carne a sua doação radical.
Se queres honrar o Corpo de Cristo, não o desprezes quando ele está nu. Não o honres assim, na Igreja, com tecidos de seda, enquanto o deixas fora, sofrendo frio e carente de roupa. Com efeito, o mesmo que disse: ‘Isto é o meu corpo’ e que realizou, ao anunciar, também disse: ‘Viste-me com fome e não me deste comida (…)’. Começa por alimentar os famintos e, com o que te sobre, ornamentarás o altar” (Catequese de São João Crisóstomo).

Reflexão feita por D. Vilson, da Diocese de Limeira. Texto completo: http://www.magnificatfm.com.br/site/?p=1471

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